Azul é a cor mais quente. Um filme pra não assistir somente com o cérebro.

   Abdellatif Kechiche, é sem dúvida, um diretor polêmico e persistente quando o assunto é fazer filmes impactantes e complexos. Se compararmos os filmes "O Segredo do Grão" (2007) e "Venus Negra" (2010), vamos perceber que ele não fez o que naturalmente, um diretor comum deveria fazer, que é fazer o filme seguinte, diferente dos anteriores, já que sua técnica não vinha agradando os olhos e ouvidos de alguns críticos de cinema no mundo todo.




Acontece que Kechiche não recua. E fez o mesmo com "Azul é a cor mais quente", Em Inglês "Blue Is the Warmest Color", porém, o título original é "La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2". Um filme que conta a história de Adèle, que no colégio, com 15 anos de idade começa a encontrar problemas com seus relacionamentos. E então começa a descobrir a homossexualidade com seus amigos e posteriormente acaba conhecendo Emma, uma estudante de arte de cabelos azuis e personalidade forte. E com ela, todos os problemas sociais e intelectuais que existem, em um relacionamento homossexual.

Um filme profundamente detalhista e "sensualmente erótico". Onde não há ordem cronológica, quanto à passagem de tempo e nada faz muito sentido nos primeiros momentos. Porém o filme causa uma imersão tão grande, que quando menos se espera você entendeu o que minutos atrás tinha pensado "hâ?". Característica herdada de outros cineastas consagrados, como Honoré e Kubrick, por exemplo.

A fotografia é insanamente linda! Perdi a conta do número de vezes em que pensei e até falei: "NOSSA QUE CENA LINDA" ou que voltei alguns segundos no filme porque não consegui prestar atenção em tudo que a cena tinha para oferecer. Kechiche aproximou muito a câmera dos personagens, fazendo quadros cada vez mais próximos, causando uma relação quase íntima entre quem vê o filme e o personagem. E quando o quadro abre, cenas lindas surgem na tela, como na cena do parque, em que as duas garotas estão conversando enquanto Emma faz um retrato de Adèle.



A trilha sonora não poderia ser melhor. Músicas étnicas de artistas independentes estão presentes em todos os lugares, seja na festa de aniversário nos fundos de uma casa, seja numa parada gay ou seja numa manifestação contra a corrupção (Uma cena linda de uma manifestação que veio a calhar em tempos de Black Blocs). O filme mostra uma coletividade que gera uma descoberta diferente a cada ato. Sempre existe um grupo, onde um está para o outro, como o outro está para este um. E a displicência está presente no filme, com toda a naturalidade do mundo, será comum você ver alguém falando de boca cheia ou um figurante pedindo um cigarro emprestado para outro bem no meio da tela. (Propositalmente, claro).

As atuações das atrizes, foram perfeitas. Boatos a parte, com todas as dificuldades que surgem ao fazer um filme com tantas cenas profundas e explícitas de sexo, as atrizes atuaram de forma excepcional. Tanto Adèle Exarchopoulos quanto Léa Seydoux, foram aos extremos, para mostrar (E conseguiram, acredite) como pode ser singelo o amor entre duas pessoas do mesmo sexo. E se esforçaram mais ainda pra mostrar como pode ser duro, o fato de sofrer preconceito por pertencer a uma "minoria". Sem contar que o desenvolvimento das personagens durante o filme é perfeito, de uma menina ingênua de 15 anos a uma Mulher de 21. Adèle começa o filme como uma garota cheia de medos e inseguranças sobre seu futuro profissional e pessoal. E termina como uma mulher madura com consciência de seu papel na sociedade, o papel de ser humana. Com muita coisa pra aprender, afinal, o amor é um aprendizado diferente a cada renovação, certo?

Por fim, vale muito a pena conferir, um filme que não aborda o assunto "Amor lésbico" ou "Amor gay", mas sim um ensaio longo e expressivo sobre o amor. na sua mais pura forma, algo natural que ocorre a todos. Seja gay, lésbica ou "simpatizante", todos são iguais e o filme explora esse lado da psiquè humana: Onde é possível se descobrir em outra pessoa, e com essa pessoa evoluir seus melhores instintos ou seus piores defeitos. Um romance sobre as fragilidades do amor e as paixões que se esvaem. Com todos seus problemas e todas as suas virtudes, são 3 horas de imersão em um universo realista e peculiar, onde nem sempre, quem vence, é o mais forte.